20 julho, 2010

Pensamentos pedagógicos...

Há anos tenho me deparado com alunos que apresentam dificuldades advindas da escrita, da leitura e sua compreensão. Muitos deles passam por uma sala de aula e acabam tornando-se “analfabetos funcionais” uma vez que apenas decifram os códigos da linguagem escrita. Embora a decifração seja parte fundamental, não pode acontecer isolada sem que o leitor atribua significado ao que lê. Muitos alunos nos quais trabalhei não possuiam a capacidade leitora o que é necessário a qualquer cidadão. Finalizam o ensino fundamental sem conhecer e conseguir produzir uma narrativa sendo este um texto base para muitos outros importantes como o dissertativo, o argumentativo e assim vai. Acumulam dificuldades e poucos conseguem chegar a uma universidade.

Alguns dos muitos jornais gratuitos no trem que

por enquanto apenas uso para "ler as imagens".


Muitos não tem acesso a um bom jornal escrito, a uma obra literária, e estão cada vez mais substituindo o uso de bibliotecas pela pesquisa inadequada na internet já que para realizá-la não basta apenas digitar o assunto no google ou em outro qualquer. É necessário ter desenvolvido competências para encontrar corretamente o que deseja além de saber ler é claro.

A Tv aberta "ensina" (lê-se emburrece), que precisamos buscar cada vez menos os estudos. Alguns dos meus alunos chegaram a dizer diversas vezes que queriam ser ladrão como o personagem tal que já foi preso e tem tudo o que quer. Ou que o salário de um traficante é bem maior do que o do fulano que trabalha o dia todo em uma doceria.

Comecei a refletir sobre isso pois em diferentes locais públicos o que não falta por aqui são jornais distribuídos a vontade dentro de uma estrutura bem planejada para atingir aqueles que utilizam frequentemente os meios de transporte urbano. Estes jornais são um resumo do noticiário do dia anterior e possuem uma linguagem simples com formatos acessíveis e práticos. Pesquisas apontam que os mesmos contribuem para o aumento dos hábitos de leitura admitindo ainda que instigam o desejo pela leitura sobretudo em jovens e adultos de classe mais baixa. Este hábito de leitura pode ainda alargar o desejo das pessoas em buscar mais e melhores fontes de leitura. Outra vantagem que os gratuitos oferecem é que eles vão ao encontro do leitor. Além dos jornais ainda vejo pessoas sempre lendo um livro. Dias desses uma menininha de colo com meses de idade imitava os pais com o jornal de cabeça pra baixo tentando "ler" no ônibus . Exemplos geram atitudes.


...nos ônibus há sempre um para ler.
Linha 6, Lund, junho de 2010.

Pensando em voz alta, somos nós educadores todos co-responsáveis pelos alunos que não leêm com proficiência. A leitura não poderá ser usada em nossas aulas como pretexto (e estou me incluindo) , precisa fazer sentido para que construam conhecimento, sejam capazes de resolver seus próprios problemas e exerçam seu papel de cidadão com sabedoria e destreza. Ao menos isso já que infelizmente há falta de oportunidades e de investimento em nosso país... Educação ainda não é prioridade.....Uma pena!




6 comentários:

Unknown disse...

A prática da leitura é realmente muito importante e deve ser estimulada sempre. Infelizmente não é a nossa realidade aqui, num país que faz piada de tudo, incentiva a banalidade e a futilidade, que deixa transgressores impunes. Enfim... é preciso que cada um de nós se empenhe em mudar a realidade à nossa volta.

beijos

Anônimo disse...

Me dá uma tristeza quando vejo jovens, crianças, adultos jovens, etc. que não sabem ler. E porque apenas decodificam sinais gráficos, não desenvolvem o vocabulário e por conseguinte não conseguem nem pensar corretamente, quanto mais expressar o pensamento. Aí, viram vaquinhas de presépio, massa de manobra! É que hoje em dia não há mais aulas de leitura em voz alta. Acabou a reflexão em sala de aula. É uma pena. Aliás o analfabetismo funcional agora expandiu-se: temos o analfabeto computacional, que não poderá sequer arranjar um emprego comum, em futuro bem próximo. Se não sabe ler direito, como vai ler os manuais e aprender a aprender? Como vai ancorar a aprendizagem na pesquisa? Ih, amiga, tem mto pano pra manga. Gostei do post. Bjssssss

Isadora disse...

Fran concordo que a leitura deve ser estimulada desde cedo, mas, infelizmente temos uma grande parte da população que não tem acesso, mas acredito que algumas iniciativas já iniciadas podem fazer com que possamos colher frutos no futuro.
Um beijinho

Beth/Lilás disse...

Nossa realidade noi quesito educação é frustrante e não consigo ver futuro muito bom para uma nação que não incentiva, que não leva o ensino e educação em primeiro plano.
Talvez, por passarmos anos e anos tentando acertar nossa parte financeira, nossos governos, inclusive o atual, mesmo alardeando que o país está bem financeiramente e rico a ponto de querer emprestar a outros, infelizmente para a educação é nada ou quase nada.
Execelente texto e reflexão.
beijinhos cariocas

Tati disse...

Fran, sua estada por terras Suecas tem nos feito um bem enrme!! heheh E não falo apenas para nós, amigos e leitores de seu blog. Extrapolo e imagino o que não trará na bagagem em seu retorno.
A responsabilidade é nossa também. Isso você tem visto aí. Nossa mentalidade, brasileira, é assistencialista, e não falo apenas pelos bolsa-tudo-e-qualquer-coisa, não. Falo que só cobramos do governo e nunca tomamos nenhuma iniciativa. É hora da mudança, e quem pode mudar alguma coisa? Nós, que tivemos o privilégio de uma boa educação, de acesso, de oportunidades. Só nós!
Amei seu texto. Tem tanto para se pensar a partir dele... Beijos amiga!
FELIZ DIA DO AMIGOOOO!! Meu carinho, por você, é tão real!
Beijos.

Denise disse...

Oi Fran, adorei te encontrar lá no blog, vim retribuir teu carinho.

Este tema respalda o que vemos na educação vigente, no passado remoto e distante...o acesso restrito para tantos acaba resultando o que tão bem ponderou a Marli, assim como teu texto tão expressivo não deixa dúvidas sobre questões pontuais e abrangentes - seja quanto a atitudes necessárias e adiadas, seja pelo exercício e modelo, pela inclusão nos projetos governamentais de recursos e ações.
Gente que pensa, propõe e age. Um conjunto de fatores que conduzem ao objetivo. Fácil de falar, fazer é uma outra história - e essa é a que melhor conhecemos os resultados. Infelizmente.

Bjos encantados pela tua postura tão bonita.